Como sociedade, como escola, como profissionais e como familiares, precisamos assumir uma perspectiva neuroafirmativa sobre o autismo.
Essa perspectiva coloca uma lente que valida e enaltece todas as características, potencialidades e vulnerabilidades da pessoa autista — em qualquer ponto do espectro. Envolve enxergar o autismo e outras formas de funcionamento neurológico como maneiras legítimas de existir no mundo.
“Pelo direito de existir sem vergonha, sem camuflagem, sem tentar se encaixar a qualquer custo.”
Autismo não se cura, mas exige terapias que ampliem o repertório de habilidades funcionais e contribuam para uma vida significativa e produtiva. No entanto, a terapia jamais deve ter como objetivo ensinar a pessoa a “não parecer autista”.
Em alguns casos, a intervenção também exige acompanhamento farmacológico — seja para tratar comorbidades como ansiedade, seja para lidar com manifestações severas como agressividade ou autoagressão.
Somos todos neurodiversos, porque cada pessoa tem um neurotipo diferente. Alguns de nós são neurodivergentes, pois nossos cérebros funcionam de um jeito que diverge do que ainda é considerado normativo na nossa sociedade.
Segundo a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), da OMS, deficiência não é algo fixo da pessoa, mas sim o resultado da interação entre suas características e as barreiras do ambiente. Infelizmente, a sociedade ainda não enxerga o quanto de barreiras são impostas aos autistas — que, para todos os efeitos legais, SÃO PESSOAS COM DEFICIÊNCIA desde 2012. Foi através da Lei Berenice Piana que o transtorno saiu de um limbo jurídico e social e passou a integrar a mesma esteira de conquistas da luta histórica das pessoas com deficiência.
Até então, o autismo era visível o suficiente para gerar estigma, mas invisível demais para garantir direitos.
Caminhar em direção a uma proposta neuroafirmativa envolve combater o capacitismo — em todos nós e em todos os níveis. Desde o preconceito hostil e agressivo até as formas sutis de capacitismo expressas nos pequenos gestos, nas metas que impomos e nas formas desvalidantes com que interpretamos o comportamento.
Neuroafirmação é construir intervenções que contemplem, entre outras coisas, o assentimento, a intervenção informada por trauma e os objetivos socialmente relevantes.
É sobre afirmar o autismo com respeito, profundidade e humanidade.
E é também lembrar que, não importa o quanto saibamos, ainda estamos aprendendo — juntos, com a ciência e com os autistas.




